Os caracteres que constituem a escrita
começaram a aparecer na China a partir de 1.300 a.C., durante a dinastia
Yin. Esses eram gravados principalmente em ossos de animais e carcaças
de tartaruga, com fins primordialmente oraculares. Apesar de ser uma
escrita primitiva, já possuia um número elevado de caracteres.
Com o desenvolvimento cultural do país, o
imperador Shih Huang Ti, da dinastia Shang (221 a.C.) reformulou a
escrita em escala nacional e a batizou de Sho-ten. Na dinastia seguinte,
Han, foi criada a escrita Rei-sho que era mais simplificada para seu
uso prático. É nesse período que começa a surgir o Shodo como arte.
Surgem grandes mestres da caligrafia nessa época e no período posterior.
Evidentemente, a escrita era privilégio
de poucos, e tendo a letra como o único tema de sua existência, o shodo
prosperou exclusivamente dentro da classe culta das sociedades.
No Japão
Os caracteres chineses foram introduzidos da China para o Japão no
fim da dinastia Han (202 a.C a 220 d.C), mas poucos sabiam escrever, e
só foi mais difundido no governo de Shotoku Taishi, filho da Imperatriz
Suiko do Japão) no século VI.
Os caracteres chineses, conhecidos como Kanji, eram então utilizados
no Japão, com os mesmos significados do original. Somente durante o
período Heian (794 a 1192 d.C.), é que surge a grande novidade no Japão:
a criação do Hiragana, para ser utilizado junto com o Kanji.
Diferente do Kanji, onde cada letra é um ideograma, ou seja, tem um
significado por si, o Hiragana tem apenas função fonética, servindo para
complementar os Kanjis, facilitando a leitura.
Pode-se passar muito mais informações utilizando-se o Kanji. Por
exemplo, a escrita chinesa usa somente três caracteres para a frase
“Gyokan-zan”, que significa “elevando-se os olhos vislumbra-se a
montanha”. Já no japonês, teremos “Ao i de yama wo miru”, com três
Kanjis e quatro Hiraganas. Por este motivo, ainda hoje, os chineses não
utilizam o Hiragana
O Hiragana foi criado a partir da escrita de Shodo. Os Kanjis
deformados pelo artista do pincel deram origem a formas mais
arredondadas e mais simples, que inspiraram os criadores do Hiragana.
Sendo fonético, o Hiragana tem quantidade bem menor, assim como acontece
com o nosso abecedário, enquanto que o Kanji, por possuir significados
próprios, tem uma quantidade muito maior. Um dicionário popular de
japonês registra mais de 10 mil Kanjis em uso no país, apesar de que a
metade nem seja usado, sobrevivendo-se apenas em alguns documentos
antigos.
É interessante salientar que as associações de artistas de Shodo do
Japão e da China se comunicam freqüentemente, pois apesar do Japão
utilizar o Hiragana no dia a dia, e parte dos Kanjis terem sido
simplificados no país, a arte do Shodo permanece essencialmente a mesma.
Os
materiais utilizados para a arte do Shodo são os mesmos nos dois
países. O pincel, feito de pelo, é um instrumento sensível, que junto
com a tinta, geralmente preta, que produz uma variedade de subtons de
cinza e de espaços “falhos” sobre o papel, traduz a arte da caligrafia. É
na levesa, na velocidade em alguns trechos e na parada em alguns pontos
com o pincel, é que se desenha a arte do Shodo. Juntando-se os
significados que o próprio ideograma desenhado representa, com a sua
beleza estética, temos uma arte bastante completa.
O shodo no Brasil
Os primeiros imigrantes japoneses que vieram ao Brasil em 1908, já
trouxeram a arte do Shodo, em muitos casos, aprendida na escola. Além
disso, era comum trazerem na sua bagagem, exemplares da arte caligráfica
desenhados por artistas e personalidades de destaque na região onde
moravam, para adornarem as paredes da nova casa.
Mas foi a partir de 1975 que o Shodo ganhou um grande impulso.
Naquele ano, foi realizada uma inédita Exposição da Arte Caligráfica
Moderna do Japão, no Brasil, sob o patrocínio da Fundação Japão, do
Mainichi Shimbun e da Federação da Caligrafia Japonesa. Essa exposição
pôde ser vista no Museu de Arte São Paulo, na Fundação Cultural do
Distrito Federal, no Instituto Cultural Brasil-Estados Unidos de Belo
Horizonte, e no Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro.
Sob o impacto daquele evento, um professor de japonês chamado Kato,
que lecionava na Aliança Cultural Brasil Japão, sabendo da existência de
muitos apreciadores da arte do Shodo no Brasil, convocou todas as
pessoas que praticavam aquela arte no país. Reuniram-se então 70
artistas desconhecidos.
Aquela reunião deu origem à associação que recebeu o nome de Shodo
Aikokai do Brasil, e que teve como o primeiro presidente, o sr. Takashi
Kawamoto, um artista residente no Brasil, que havia recebido o título de
mestre do Shodo enquanto morava no Japão.
Os participantes definiram as diretrizes para difundir o Shodo no
Brasil, e sob a orientação de Kawamoto, passaram a se reunir duas vezes
por semana, para estudar e praticar a arte.
Depois, com a evolução prática de vários elementos, sentiram-se
motivados a participar do exame realizado no Japão, passando a figurar
lado a lado com os artistas do Japão.
O mestre Nampo Kurachi
Um
dos fundadores da Shodo Aikokai do Brasil, Nampo Kurachi rapidamente se
destacou como um reconhecido calígrafo. Na primeira participação do
grupo brasileiro no concurso da associação japonesa Hokushin, em 1981,
Kurachi surpreendemente viu seu trabalho ser publicado com destaque,
obtendo assim o nível 10, que é o primeiro degrau por onde passam todos
os artistas da caligrafia japonesa. Depois, galgando um a um todos os
níveis, chegou ao nível 1, para finalmente, obter o 1º grau. Os graus
são méritos concedidos apenas a aqueles que passaram por todos os níveis
inferiores, e são em ordem crescente.
Nampo Kurachi chegou ao 5º grau nessa escala hierárquica, quando
prestou exame e foi aprovado como professor (kyoushi), um dos poucos no
Brasil.
O mestre Kurachi nasceu em 1921, e chegou ao Brasil em 1934,
trabalhando primeiro no campo, e depois na tinturaria. Grande apreciador
da música, dirigiu a Aozora, uma banda que animava bailes e festas nos
anos 60 e 70. Foi também jurado de muitos concursos de música japonesa.
Com sua calma oriental e budista (todos os anos, há décadas, ele
reserva a manhã do primeiro dia do ano para ir ao seu templo e rezar
pela paz no mundo), e sua grande vontade de cultivar a arte, Nampo
Kurachi não aparenta a idade que tem. E há muito mantém seu rítmo
intenso de trabalho. Atualmente leciona na Sociedade Brasileira de
Cultura Japonesa, na Associação da Província de Aichi, e na Escola
Oshiman, todas em São Paulo.
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